“(…) a imprensa brasileira cumpriu o seu papel, não por ideologia, perseguição, partidarismo, mas porque é uma obrigação do jornalismo fiscalizar o poder público, alertar a sociedade e defender a democracia.” |
É transcrevendo o comentário de Carlos Nascimento, âncora do Jornal do SBT de hoje, 27/10/2011, que começo este artigo para mostrar o quanto empenhado está, realmente, o jornalismo brasileiro, em mostrar os fatos e trazer a verdade aos cidadãos, informando-os sobre o que ocorre no país.
Sim, é verdade, o Brasil é o país da América Latina mais bem servido de bons jornalistas e onde, principalmente, a grande mídia não sofre influências nem de Governo nem da classe mais abastada. Aqui podemos bater no peito e dizer que somos bem informados e sabemos tudo na mais absoluta transparência. Piada né? Sim, uma grande e engraçada piada, caro leitor.
Hoje foi o primeiro dia da grande ocupação do canteiro de obras da Barragem de Belo Monte, em Altamira (PA) por povos indígenas, pescadores, ribeirinhos, pequenos agricultores e populares, todos direta ou indiretamente afetados pela construção da usina. São mais de 300 pessoas, de diversas idades, que estão neste exato momento acampadas entre as máquinas pesadas na imensa clareira aberta pela Norte Energia.
Mas você não viu isso em nenhum telejornal, ou viu? Não, realmente não viu. Uma ocupação desta magnitude, com interesses do Governo em jogo, não foi sequer nota de comentário em NENHUM TELEJORNAL no dia de hoje. Nem Globo, nem SBT, nem Record, nem Band, nem RedeTV!, nenhuma grande emissora se manifestou sobre o caso. Muito pelo contrário, deram um jeito de correr atrás de outras notícias menos importantes, mas que ganharam destaque na tela, como o que Romário pensa sobre a seleção feminina de futebol, o OccupyWallStreet e a revolta das charretes de NY. A Globo até resolveu falar sobre o Panamericano do México(assunto que estava evitando noticiar, já que os direitos de transmissão foram comprados pela Record com exclusividade). Tudo isso para não ter de tocar no assunto da ocupação de Belo Monte.
Já as novas mídias, os sites de notícias e versões online de alguns jornais (digo isso por ainda não saber se a notícia sairá na versão impressa também), estes correram atrás e noticiaram quase que em tempo real. Talvez pelo simples fato de não deixar de dar a notícia e perder a posição para os milhares de blogs de jornalistas amadores, cidadãos como eu e você, que cansaram de ver os fatos serem mascarados e terminam publicando quase tudo que acontece ao seu redor, gerando a verdadeira notícia.
No começo do artigo eu cito os jornalistas, mas agora vou me retratar. Na verdade não creio que um jornalista, que estudou duro para ter seu diploma e lutou para arrumar um emprego numa boa redação, não queria dar a notícia correta ou tenha algum interessa em, simplesmente, não dar a notícia. Não, não acredito nesta hipótese. Mas sei do que acontece acima deles. A censura na verdade parte dos donos dos veículos de comunicação e dos grandes editores, todos estes quem tem, em níveis diferentes, o rabo preso com o Governo ou algum interesse particular na notícia a ser censurada ou maquiada. Estes sim, os corruptíveis, são os verdadeiros culpados da omissão das grandes mídias em certos assuntos de interesse nacional e, em especial, neste caso da Usina de Belo Monte.
Realmente, a notícia da ocupação desestabilizaria completamente a posição firme do Governo em perseverar na construção da usina. Imagina só vocês, que confusão ia dar, se o povão soubesse o que realmente está acontecendo! Muita gente, sabendo o mínimo sobre este empreendimento, já é logo contra este absurdo, imagina então se a maior parcela da população tomasse conhecimento? Realmente seria uma tragédia para os planos de “desenvolvimento sustentável” do país.
É por isso, meus caros, que nem os processos na justiça sobre Belo Monte, nem os atos locais, em cada cidade, nem esta grande ocupação apareceram uma vez sequer na televisão, veículo de massas, formador de opinião. Nada disso será visto por um bom tempo ainda, e cabe a nós, pessoas comuns, mas temos a consciência do que está acontecendo no Para, espalhar a notícia, como está fazendo este artigo agora, como fazem dezenas de blogs, como fazem alguns vídeos amadores, etc.
Infelizmente a nossa mídia é uma mídia comprada, de uma verdade falida e com princípios que só servem para se ler no papel. Na prática, no Brasil, nada disso funciona como está escrito. Ética e transparência, aqui, passam longe.
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